Tempestade, raio e trovão: o medo da humanidade e sua explicação mitológica

Desde que a humanidade surgiu no mundo em forma de civilização passou a questionar-se e a questionar o mundo em que vivia. Assim o homem leva consigo por toda sua existência sua explicação sobre a vida, a origem e o fim do mundo. Um dos temas que freqüentemente aparece na maioria dos mitos dos povos antigos, é sobre as forças da natureza e seu significado, sendo que a origem e manifestação de raios, trovões, relâmpagos e tempestades é o que mais fascinou e amedrontou o ser humano durante milhares de anos. A partir dessa intrigante questão, o ser humano deixou de procurar entender, para tentar interagir com esse fenômeno. Assim com anos de estudos de grandes gênios, chegamos ao que conhecemos hoje como energia elétrica, ou simplesmente, eletricidade.
Se voltarmos nos olhos para o passado e fizermos uma rápida leitura das mitologias de diversas culturas antigas que influenciaram o ocidente, podemos encontrar muitas coincidências e perceber que certas duvidas intrigam o ser humano até os dias atuais. Os trovões e tempestades, luz e som que vem do céu de forma rápida e assustadora tem explicações mais profundas que fazem parte do inconsciente humano do que apenas a explicação científica do magnetismo causado por diferenças de energias positiva e negativa entre céu e terra. Vejamos o exemplo da cultura Nórdica, germânica, onde o Deus Thor, consagrado ao trovão e tempestades é considerado a divindade mais forte entre todos os deuses dessa cultura. Segundo os escritos datados de duas décadas depois de cristo (já que os nórdicos, assim como os celtas possuíam apenas comunicação oral) diz que Thor era um guerreiro gigante que matava gigantes de gelo.
Thor
Sua arma era um martelo mágico de cabeça grande e cabo pequeno, chamado mjolnir, de onde jorrava raios de luz. Segundo o panteão nórdico, Thor era o maior destruidor do mal, alem do martelo, que nunca errava o alvo e sempre voltava à sua mão, ele usava luvas de ferro especiais para segurar o martelo e um cinturão que dobrava as suas forças. Thor era o deus mais próximo dos camponeses e pessoas humildes, a sua lenda conta que depois de lutar em guerras, ele voltava a seu castelo e recebia os espíritos dos pobres que haviam morrido.
O Deus Thor, tem um significado importante para a cultura anglo-saxônica, como protetor do mundo e da comunidade, temas extremamente importantes para os povos nórdicos, por isso tem como símbolo o carvalho representando o tronco da família. É atribuído a ele a morte da serpente Jormungand que ameaçava a terra. Os povos nórdicos elegeram o quinto dia da semana ao deus Thor, “Thursday”, em inglês, “Thor`s Day”. Em muitas histórias podemos encontrar relatos de que quando ele percorria o céu em sua carruagem puxada por dois bodes havia um grande barulho que estremecia toda a terra. Essa imagem é vista também na cultura celta em relação ao deus Taranis, um dos mais populares entre as tribos celtas. Deus do fogo e das tempestades, a lenda conta que o barulho do trovão era causado pelas rodas de sua carruagem e a luz dos relâmpagos pelas fagulhas que saltavam dos cascos de seus cavalos, seu nome deriva da plavra “Tarah” que significa “relâmpago”.
Taranis
Na mitologia grega, o Deus mais poderoso do Monte Olimpo é o qual controla os trovões e as tempestades. Zeus é sempre retratado com sua arma mais poderosa: os raios. Patrono das chuvas, sua mitologia o retrata como um deus forte, rei dos deuses. Assim como Thor, tem como símbolo sagrado, o carvalho. Sua lenda conta que era filho de Reia (Deusa mãe-terra) e Cronos (Deus do tempo). Apesar de muitas historias terem diferenças de dados e datas na maioria delas foi casado com Hera, deusa da família, e mostra muitas vezes cenas eróticas, de traição e descendência. Zeus é atribuído como pai de muitos dos heróis e deuses gregos, como por exemplo Hercules. Os jogos olímpicos era feitos em sua homenagem.
Zeus
A história de Zeus conta que a Deusa Gaia (terra) profetizou que Cronos, rei do Olimpo, seria destronado e substituído por um de seus filhos. Assim, a cada um que nascia ele os devorava. Quando Reia estava gestando o sexto filho, temeu que tivera o mesmo destino dos outros, então, com a ajuda de Gaia, deu à luz às escondidas à criança que chamou de Zeus, “tesouro que reluz”. Aos cuidados das ninfas, Zeus cresceu forte e saudável, quando atingiu idade adulta foi de encontro ao pai. Disfarçado, deu-lhe de beber uma beberagem que o fez vomitar todos os filhos engolidos e que agora eram adultos. Zeus uniu todo eles em uma rebelião contra Cronos. Depois de uma grande guerra, conhecida como Titomaquia, os jovens deuses ganham o controle do Monte Olimpo destituindo Cronos e reconhecendo Zeus como Deus dos céu e da terra, o oceano passou aos domínios de Poseidon e Hades deus do submundo ou mundo dos mortos.Zeus como deus dos deuses e dos homens era o mais forte de todos e o mais justo. Fazia suas leis e punia imediatamente quem as descumprisse seja deus ou mortal. A forma de punição mais usada contra a humanidade era provocar tempestades e raios contra a terra.
Na cultura considerada berço do mundo, podemos encontrar como divindade dos trovões e tempestades, o Deus Seth. No Egito a lenda conta que Osíris, deus do mundo, foi destituído e assassinado por seu irmão Seth. Isis esposa de Osíris, desesperada encontra o corpo do marido e consegue engravidar mesmo com ele morto, o fruto dessa união é Horus. Isis se esconde com o filho para que Seth não saiba de sua existência e tente contra sua vida. Mesmo assim, ela precisa da ajuda de outros deuses para curar as diversas moléstias que sofreu seu filho durante toda sua infância. O protetor mais amável de Horus foi Rá seguido de Toth, deus da sabedoria.
Seth
Depois de adulto, Horus decide vingar a morte do pai e vai de encontro a Seth. Este com seu caráter destruidor e implacável, prega diversas armadilhas em Horus que corre aos braços de sua mãe para curar-se. Depois de diversos conflitos entre os dois deuses sobre quem era o mais apropriado para governar o mundo, o deus soberano Rá, ordena que Osíris volte para acertar suas contas com o seu assassino, ordenando que cada um desse o seu melhor para que os outros deuses pudessem avaliar qual era o melhor candidato. Osíris ofereceu a todos trigo e cevada enquanto Seth fez demonstrações de força e poder. Assim os deuses elegeram Osíris como vencedor e seu filho Horus foi escolhido como seu sucessor e passou a governar em seu lugar.
Diante do caráter explosivo, poderoso, implacável e atormentador de Seth, Rá lhe concedeu um lugar no céu, como deus dos trovões e das tempestades. Símbolo da desordem e violência e, apesar de muitas vezes ser visto como um deus cruel, Seth era considerado um deus bom e terno. Era venerado no Alto Egito e tem como principal símbolo o burro e o Oasis.
Podemos encontrar também símbolos para as tempestades e trovões entre as culturas cristãs. No catolicismo, é a imagem de um mulher que representa essa força da natureza. Conta a lenda que Santa Barbara era uma virgem linda e rica que viveu entre 235 ou 313, em Nicomédia, Egito. Por sua exuberante beleza e temendo pela vida da única filha, seu pai, Dióscoro a aprisionou em uma torre. Já em idade amadurecida, ela rejeitava todos os pretendentes a casamento, seu pai atribuiu essa atitude como conseqüência de anos de reclusão, assim a permitiu que conhecesse a cidade. No meio de tanta gente, ela encontrou um rapaz que lhe falou sobre a nova fé em um Deus único, lhe explicou sobre a santa trindade e outros dogmas cristãos.
Santa Barbara
Quando seu pai saiu de viagem, ela ordenou que se construísse mais uma janela na torre, que até então tinha duas, para representar a Santa Trindade e se foi batizada. Seu pai quando voltou, descobriu as pretensões da filha e não aceitou sua nova fé. A denunciou ao prefeito que a condenou à tortura e à sentença de morte, foi obrigada a andar nua pela cidade e teve seus seios cortados. Seu próprio pai foi responsável pela sua morte degolando-a com uma espada, segundo a lenda, quando sua cabeça caiu no chão, se formou uma tempestade e um enorme raio caiu do céu e atravessou o corpo de seu assassino. Por isso, Santa Barbara é conhecida como protetora das tempestades, raios, trovões e também, padroeira de todos aqueles que trabalham com fogo.
No Brasil, devido ao sincretismo religioso, conseqüência de uma diversidade cultural que forma a sociedade do país, encontramos nas religiões afro-brasileiras, Umbanda e Candomblé, a Orixá Iansã, Oyá, sincretizada como Santa Barbara. Ela é reconhecida como a entidade que anula cargas negativas e feitiços maléficos. As tempestades também podem ser vistas como simbólicas, representantes dos feitiços ou demandas. Mas ao contrario de Santa Barbara que é sempre vista como meiga e ingênua, Iansã é retratada como uma mulher forte, autoritária e impetuosa. Ao lado de Xangô forma o trono da lei e da justiça. É também atribuída ao submundo, protetora dos espíritos desencarnados. Ela é vista como a divindade que abre os reservatório de água para fecundar a terra, que sopra os ventos do mundo e que dá passagem aos raios de Xangô à terra.
Xangô
Oyá é cultuada na Nigéria onde se faz preces antes das tempestades para pedir-lhe clemência a Xangô, divindade dos trovões. A lenda conta que Iansã é um título que recebeu Oyá que significa “entardecer” ou “Céu rosado”, de Xangô que dizia que ela era radiante como o entardecer. A historia conta que foi uma princesa Yorubá muito forte, casou-se com seu primo e governou a cidade de Irá com valentia e coragem, não se deixou abater por conflitos ou guerras, conquistando reinos próximos e expandindo o reino yorubano.
Este pequeno esboço sobre algumas das principais mitologias que compõe o mundo ocidental atual mostra como o ser humano na tentativa de sanar duvidas profundas, cria e descobre meios de entender e controlar a natureza. Mas mesmo depois da evolução da energia elétrica e toda a ciência física que estuda esses fenômenos naturais, eles continuam fascinando e intrigando a humanidade, que ainda estremece e se amedronta com qualquer pequeno sinal de tempestade.

Fonte:
Wikipédia www.wikipedia.com
http://www.mundodosfilosofos.com.br/deuses.htm
www.nomismatike.hpg.ig.com.br
www.sobiografias.hpg.ig.com.br
http://www.tione.h-br.com/Egipcia_arquivos/Page455.htm
http://www.arlekimbr.hpg.ig.com.br/egpcia.html
http://www.claudiocrow.com.br/mitos_galia.htm
www.nuss.com.br/os-orixas/inhansa.html
www.rosanevolpatto.trd.br/deusaiansa.htm
http://www.ruadasflores.com/stabarbara/

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