A introdução da energia elétrica no Brasil: PARTE I

Por Danielle Bohnen
Diferentemente de como aconteceu em outros períodos da história quando as atividades, tecnologias entre outras coisas tardavam para chegar ao Brasil, como, por exemplo, o atraso de 50 anos em relação à Europa para a introdução da iluminação a gás, a energia elétrica chegou em território verde-amarelo apenas 2 anos depois da primeira experiência em Londres. No século XIX, um contexto histórico marcado pelas grandes fazendas de café e açúcar, a introdução da energia elétrica que substituiu o gás, traz um traço marcante de incongruência com a sociedade da época baseada em trabalho escravo, abolido somente em 1888.
Escravos
A cidade de Campos dos Goycatazes no Rio de Janeiro foi a primeira cidade da América Latina a substituir a iluminação pública a gás pela elétrica através de uma termoelétrica, já em 1881. Na presença do Imperador Dom Pedro II, passou a funcionar o sistema de rede contínua de 52 KW capaz de iluminar 39 lâmpadas. Seis anos depois foi inaugurada a primeira usina elétrica da América do Sul, a Usina de Marmelos. Mantida por Bernardo Mascarenha, a usina tinha como finalidade abastecer sua fábrica de tecidos e a cidade de Juiz Fora, Minas Gerais. A usina oferecia os dois sistemas, corrente contínua para iluminação e corrente alternada para o funcionamento de motores.
Usina de Marmelos
Apesar de esses dois acontecimentos serem os mais importantes neste período inicial, já em 1879 a estação central ferroviária, Central do Brasil, recebeu fornecimento de energia elétrica e, em 1883, foi inaugurada em Diamantina a central hidroelétrica no Ribeirão do Inferno a fim de suprir uma mineradora.
Nesta época, o acesso à energia elétrica era restrito ao setor privilegiado da sociedade, já que não estava disponível gratuitamente. Resultado disso, foi a forte presença de capital industrial para a manutenção das fontes de energia. As indústrias se beneficiavam tanto interna como externamente da facilidade e avanço de produção proporcionados pela eletricidade. Com isso, a energia elétrica ganha um caráter de luxo, elevando o status de pessoas e regiões privilegiadas desse acesso.
Até então toda a produção era voltada a pequenas áreas urbanas e industriais para suprir sua demanda. Depois do Rio de Janeiro, apenas os estados de São Paulo e Minas Gerais voltaram seus olhos para a produção de energia elétrica. O primeiro para fornecer energia à produção de café e cana-de-açúcar, já o segundo, voltava sua atenção para as mineradoras. Esses pequenos produtores, principalmente no Estado de São Paulo começaram a um processo de concentração formando grupos que controlavam áreas maiores. Esse processo incentivou a formação de importantes companhias como a Companhia Brasileira de Energia Elétrica, CBEE, e a Companhia Paulista de Força e Luz, CPFL. Toda a produção de eletricidade estava subordinada a Ministério da Agricultura.
Com os avanços sociais e econômicos do país na época, fez-se necessário a ampliação do fornecimento de energia, pois o país passava para a fase das atividades urbano-industriais, que sentia carência de produção com o aumento do consumo. Ademais, a Primeira Guerra Mundial dificultava as importações de combustíveis e carvão, sendo assim, o país vê-se obrigado a fabricar seus próprios subsídios. Por incentivo do governo, o Brasil passa a receber tecnologia e capital estrangeiros interessados no processo de modernização e industrialização do país. Cria-se, no Canadá, a São Paulo Railway, Light and Power Company Limited, em 1899, e, a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited, em 1904. Mais tarde, em 1912, as duas empresas se fundiram formando a holding Brazilian Traction, Light and Power Co. Ltda., detendo os dois principais mercados do país. Entre os projetos mais importantes promovido pela Brazilian Traction destacam-se a hidrelétrica de Parnaíba, 1906 (2.000 kW), a hidrelétrica de Fontes (12.000 kW), em 1908 e a hidrelétrica Henry Borden (44.400 kW) em 1926.
As outras localidades eram supridas por pequenas produções locais regidas por concessões municipais. A partir de então o crescimento de geração de energia elétrica tomou velocidade, enquanto que em 1883 a capacidade instalada era de 52 kW, em 1890 chegou a 1.267 kW passando para 10.376 em 1900; dez anos depois atingiu a cifra de 152.401 kW e em 1920 já tinha capacidade de mais de 367.000 kW, sendo que 276.100 kW provinham de usinas hidrelétricas e 78.8800 de termoelétricas, cerca de 300 empresas serviam a 431 localidades. Portanto, foi nessa época que consolidou-se a produção hidráulica que chegou em 1910 com 82% de toda a produção. Esse desenvolvimento foi a base para a evolução da indústria de energia elétrica no país.
Em 1927, desembarca em território brasileiro a AMFORP – American & Foreign Power, um setor da empresa estadunidense Eletric Bond & Share Corporation. A AMFORP criou as companhias: Empresas Elétricas Brasileiras e a Companhia Brasileira de Força Elétrica; e teve como primeira atividade, incorporar várias concessionárias menores, tomando o segundo lugar na produção de energia elétrica do país ao lado da LIGHT.
AMFORP
Assim, nos anos 30, o Brasil chega à capacidade de 779.00 kW, sendo que a maior parte centrava-se na região sudeste, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, com a fatia de 80% de toda a distribuição. O número de empresas alcança o marco de 1.176 com 738 hidroelétricas, 637 termelétricas e 15 mistas, sendo que as primeiras detinha 85% da capacidade instalada. Nessa época a eletricidade passa a ser utilizada para outras finalidades além de iluminação pública e indústrias, como o transporte elétrico e iluminação doméstica.
Bonde elétrico
O incentivo à expansão da indústria de energia elétrica foi impulsionado pela implantação de uma política apoiada pela iniciativa estatal, em 1948. Assim, no mesmo ano, é crida a Chesf, Companhia Hidroelétrica do São Francisco, no nordeste, seguida das empresas: Cemig, em Minas Gerais, Uselpa e Cherp, posteriormente incorporadas na Cesp, em São Paulo, Copel, no Paraná, Furnas na região centro-sul, entre outras.
A principal delas foi criada em 1961 e instalada no ano seguinte. Responsável pela execução da política de energia elétrica no país, a Eletrobrás, Centrais Elétricas Brasileiras S.A., opera como empresa holding através das subsidiárias regionais Chesf e Furnas. A Eletrobrás, já em 1954, na época de Vargas, foi planejada para ser uma grande empresa estatal a fim de descentralizar o monopólio das estrangeiras e coordenar e sistematizar a construção e distribuição de usinas. Mas foi apenas em 1963, no governo Jânio Quadros que isso foi possível. Entre os anos de 1962 e 1976 a capacidade instalada triplicou passando de 5.729 mW para 17.700 mW. Foi de responsabilidade da Eletrobrás também realizar estudos sobre outras fontes de energia como a solar e das marés, além de formas para o transporte de grandes quantidades de energia a longas distâncias.
Eletrobrás
Fontes:
Energia Elétrica no Brasil – Blog Luís Nassif
ONS – Entenda o setor elétrico no Brasil
Escelsa – História da Energia Elétrica no Brasil
CDCC
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