Seletividade e Coordenação das Proteções: Fundamentos Essenciais para Sistemas 138/69 kV e o Requisito Normativo

A operação segura e confiável de sistemas elétricos de potência, especialmente em níveis de Alta Tensão (AT) como 138 kV e 69 kV, depende fundamentalmente de um sistema de proteção eficaz. Contudo, a simples instalação de relés e disjuntores não garante essa eficácia. É a correta aplicação dos princípios de seletividade e coordenação das proteções que distingue um sistema robusto de um sistema propenso a falhas em cascata e interrupções generalizadas.

Para engenheiros eletricistas, especialistas em proteção e gestores de ativos no setor, dominar estes conceitos é crucial para o projeto, implementação e manutenção de subestações e linhas de AT. A Especificação Técnica “Fornecimento de Energia Elétrica em Alta Tensão – 138-69 kV” (CNC OMBR MAT 19 0407 EDBR) da Enel reforça a importância deste tema ao exigir, na fase de projeto, a apresentação do estudo de coordenação e seletividade das proteções. Este requisito sublinha que a análise teórica e a validação prática são componentes inseparáveis da segurança do sistema e da eficácia da seletividade e coordenação das proteções.

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Entendendo os Conceitos: Seletividade e Coordenação

Embora frequentemente usados juntos, seletividade e coordenação referem-se a aspectos distintos, porém interdependentes, da proteção do sistema elétrico:

  1. Seletividade: O objetivo final. Um sistema de proteção é seletivo se, na ocorrência de uma falta (curto-circuito, sobrecarga, etc.), apenas o equipamento de proteção (relé e disjuntor associado) localizado no ponto mais próximo da falha atua, isolando o trecho defeituoso sem desligar partes saudáveis do sistema. A seletividade minimiza o impacto da falha, restringe a área afetada e mantém o fornecimento de energia para o restante da rede. Idealmente, a seletividade deve ser alcançada tanto pela proteção principal (que atua mais rapidamente no trecho que contém a falha) quanto pela proteção de retaguarda (que atua mais lentamente caso a proteção principal falhe).
  2. Coordenação: O processo pelo qual a seletividade é atingida. A coordenação envolve o ajuste criterioso dos parâmetros de atuação dos diferentes equipamentos de proteção em cascata (relés, fusíveis, disjuntores), garantindo que eles operem em uma sequência lógica e temporal pré-determinada em caso de falha. Este ajuste considera as características de cada dispositivo (curvas de atuação, tempos de operação) e a configuração da rede.

Em essência, a coordenação é o método para se alcançar a seletividade. Sem coordenação adequada, uma falta em um ponto específico pode levar ao desligamento de múltiplos disjuntores a montante, afetando uma área muito maior do que o necessário e comprometendo a estabilidade do sistema. A garantia da seletividade e coordenação das proteções é, portanto, uma tarefa de engenharia essencial.

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Por Que Seletividade e Coordenação São Fundamentais?

A importância da seletividade e coordenação das proteções em sistemas de AT 138/69 kV reside em diversos fatores operacionais e econômicos:

  • Segurança: A seletividade rápida isola a falha, reduzindo o tempo de exposição a condições perigosas (altas correntes de falta, arcos elétricos) tanto para o sistema quanto para o pessoal de operação e manutenção.
  • Confiabilidade do Fornecimento: Ao limitar o desligamento apenas ao trecho defeituoso, a seletividade garante a continuidade do serviço para a vasta maioria dos consumidores, melhorando os indicadores de continuidade (como FDEC e DMIC) e reduzindo o impacto econômico de interrupções.
  • Preservação de Ativos: A atuação rápida e seletiva impede que correntes de falta persistam desnecessariamente, reduzindo o estresse térmico e eletromecânico sobre cabos, transformadores, disjuntores e outros equipamentos, prolongando sua vida útil.
  • Estabilidade do Sistema: Em faltas severas e prolongadas, a estabilidade do sistema elétrico como um todo pode ser comprometida. A proteção rápida e seletiva ajuda a isolar a perturbação, permitindo que o restante do sistema se mantenha estável.
  • Conformidade Regulatória e Normativa: Órgãos reguladores e as próprias distribuidoras, como a Enel na especificação em análise, exigem explicitamente estudos e sistemas de proteção coordenados para garantir a segurança e a qualidade do serviço.

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O Estudo de Coordenação e Seletividade: Um Requisito Normativo

A Especificação Técnica CNC OMBR MAT 19 0407 EDBR da Enel, na Seção 7.11.2, que trata da Apresentação do Projeto para instalações atendidas em 138 kV e 69 kV, é clara quanto à exigência do estudo de seletividade e coordenação das proteções:

CNC OMBR MAT 19 0407 EDBR Fornecimento de Energia Eltrica em Alta Tenso 138 69 kV, Seção 7.11.2:

“O projeto deve ser apresentado para análise da Distribuidora em 2 (duas) vias, contendo os seguintes documentos: … n) Estudo de coordenação e seletividade das proteções (no caso de equipamentos digitais disponibilizar o arquivo de parametrização);”

Este requisito demonstra que o estudo de coordenação e seletividade não é opcional; é uma parte integrante e obrigatória do projeto elétrico para esse nível de tensão. Ele valida teoricamente se os ajustes propostos para os relés de proteção (mencionados no artigo anterior, como 50/51, 87, 21, etc.) e outros dispositivos de proteção garantem a seletividade necessária entre a proteção do consumidor e a proteção da rede da distribuidora, bem como entre os diversos níveis de proteção interna da instalação do consumidor (AT para MT, MT para MT).

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O estudo de coordenação e seletividade normalmente envolve as seguintes etapas:

  1. Coleta de Dados do Sistema: Levantamento completo da topologia da rede, características dos equipamentos (transformadores, linhas, cabos, disjuntores, relés, TCs, TPs), e dados de curto-circuito nos diferentes pontos de interesse.
  2. Análise de Curto-Circuito: Cálculo das correntes de falta máximas e mínimas em diversos pontos do sistema para diferentes tipos de falhas (trifásica, fase-fase, fase-terra). Estes valores são cruciais para definir os limites de atuação dos relés.
  3. Definição das Zonas de Proteção: Identificação clara dos limites de atuação primária e de retaguarda de cada dispositivo de proteção ao longo do sistema elétrico.
  4. Seleção dos Equipamentos de Proteção: Escolha dos tipos de relés, disjuntores, fusíveis e suas características (curvas de atuação, faixas de ajuste).
  5. Determinação dos Ajustes: Cálculo e definição dos parâmetros específicos para cada relé (pick-up de corrente/tensão/impedância, multiplicadores de tempo, atrasos temporais) e outros dispositivos. Este é o cerne da coordenação.
  6. Plotagem das Curvas Tempo-Corrente: Representação gráfica das curvas de atuação de todos os dispositivos em cascata em um diagrama logarítmico tempo-corrente. Este gráfico permite visualizar as margens de seletividade entre os dispositivos. A norma exige que o estudo seja feito e apresentado, o que implica a necessidade dessa plotagem e análise para garantir a seletividade e coordenação das proteções.
  7. Verificação das Margens de Seletividade: Análise dos gráficos tempo-corrente para garantir que haja um intervalo de tempo suficiente (geralmente entre 0.2 e 0.4 segundos, dependendo da tecnologia dos disjuntores e relés) entre a atuação do dispositivo a jusante (mais próximo da falta) e o dispositivo a montante (de retaguarda).

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Desafios na Coordenação e Seletividade em Sistemas de AT

Apesar dos princípios serem claros, o estudo e a implementação da seletividade e coordenação das proteções em sistemas de AT podem apresentar desafios significativos:

  • Complexidade da Rede: Redes com múltiplos níveis de tensão, conexões em malha, ou com a presença de fontes de geração distribuída (como a mencionada na Seção 7.10 da norma, que deve seguir especificação local da Enel) aumentam a complexidade da análise de fluxo de falta e da definição de ajustes.
  • Tecnologias de Relés Diversas: A presença de relés eletromecânicos, estáticos e microprocessados (digitais) com diferentes características e tempos de operação pode dificultar a coordenação. O uso de relés microprocessados, conforme incentivado pela norma, simplifica alguns aspectos, mas exige familiaridade com suas lógicas de programação.
  • Dados Precisos: A qualidade do estudo depende da precisão dos dados de entrada, incluindo impedâncias de transformadores e linhas, níveis de curto-circuito da rede da distribuidora (como os fornecidos na Tabela 2 da norma) e características dos equipamentos existentes.
  • Mudanças na Rede: Alterações na configuração da rede da distribuidora ou na própria instalação do consumidor (aumento de carga instalada, conforme Seção 7.3.3.1) podem invalidar um estudo de coordenação prévio, exigindo sua revisão.
  • Coordenação com a Concessionária: A coordenação entre as proteções do consumidor e as proteções da rede da Enel (concessionária ou “Acessada” na terminologia da Seção 6) é crítica. A norma exige que o acessante envie o cálculo da coordenação e seletividade com as subestações supridoras da distribuidora (Seção 7.11.3), evidenciando a necessidade de colaboração e troca de informações técnicas.

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Do Teórico ao Prático: Validando o Estudo em Campo

Um dos pontos mais importantes, e que a Bohnen+Messtek compreende profundamente, é que o estudo de coordenação e seletividade é uma análise teórica baseada em modelos e dados. Para garantir que o sistema de proteção funcionará corretamente em uma situação real de falha, é indispensável validar os ajustes calculados através de ensaios em campo. Essa validação prática assegura a efetividade da seletividade e coordenação das proteções no ambiente real.

Os ensaios de comissionamento e manutenção em relés de proteção e transformadores de instrumentos (TCs e TPs) são a ponte entre o estudo teórico e a operação confiável. Eles permitem:

  • Verificar a Programação dos Relés: Confirmar se os ajustes calculados no estudo foram corretamente inseridos nos relés microprocessados.
  • Testar as Curvas de Atuação: Injetar correntes e tensões simuladas nos relés para verificar se suas curvas de atuação e tempos de disparo correspondem aos definidos no estudo de coordenação.
  • Validar a Exatidão dos TIs: Garantir que os TCs e TPs (cuja precisão para medição é detalhada na Seção 7.7.3 da norma, mas que também são cruciais para a proteção) estão fornecendo os sinais corretos para os relés, dentro das margens de erro aceitáveis.
  • Confirmar a Lógica de Intertravamento: Testar se as lógicas de bloqueio e disparo entre diferentes relés e disjuntores funcionam conforme projetado e coordenado.
  • Medir Tempos de Abertura de Disjuntores: Um fator crítico na seletividade temporal. Os tempos de abertura dos disjuntores precisam ser conhecidos e considerados na definição dos intervalos de seletividade no estudo.

A exigência da Enel em receber o arquivo de parametrização dos relés digitais (Seção 7.11.2) e a necessidade de realizar o comissionamento do sistema de medição (que utiliza os mesmos TIs da proteção, Seção 7.7.4) reforçam a importância da validação prática do projeto, onde os ensaios são indispensáveis para a correta seletividade e coordenação das proteções.

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A Contribuição da Bohnen+Messtek

No contexto da seletividade e coordenação das proteções, a Bohnen+Messtek se posiciona como um parceiro essencial para garantir que a teoria do estudo se traduza em prática confiável. Nosso portfólio de equipamentos de calibração e ensaios é projetado para atender às necessidades rigorosas de validação em sistemas de AT, como os exigidos pela especificação da Enel.

Oferecemos soluções para:

  • Ensaios avançados em relés de proteção, permitindo a verificação de todas as funções e curvas de atuação com alta precisão.
  • Ensaios em TCs e TPs, cruciais para a exatidão das medições e a correta operação dos relés.
  • Ensaios em disjuntores para verificar seus tempos de operação e capacidade de interrupção.
  • Medição de resistência de aterramento, vital para a performance das proteções de terra.

A precisão e a confiabilidade dos ensaios realizados com nossos equipamentos são fundamentais para validar o estudo de coordenação e seletividade, garantindo que os ajustes calculados realmente proporcionem a proteção esperada em campo. Através da nossa expertise e das nossas ferramentas, auxiliamos profissionais a cumprir os requisitos normativos e a elevar o padrão de segurança e confiabilidade de suas instalações de alta tensão.

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A seletividade e a coordenação das proteções são princípios indissociáveis e essenciais para a operação segura e confiável de sistemas elétricos de Alta Tensão 138/69 kV. A exigência explícita do estudo de coordenação na Especificação Técnica CNC OMBR MAT 19 0407 EDBR da Enel demonstra a criticidade que as distribuidoras atribuem a este aspecto do projeto. Contudo, a validação em campo através de ensaios precisos é o que transforma o estudo teórico em garantia operacional da seletividade e coordenação das proteções.

Para os profissionais da área, dominar os conceitos de seletividade e coordenação, realizar estudos acurados e, fundamentalmente, validar os resultados com equipamentos de calibração e ensaios de alta qualidade, é o caminho para assegurar a resiliência das instalações contra falhas e contribuir para a estabilidade do sistema elétrico nacional. A Bohnen+Messtek está ao lado desses profissionais, oferecendo as ferramentas e o conhecimento necessários para enfrentar esses desafios com excelência.

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